Tecendo Relações


“Na medida em que cada um de nós aceita ser ele mesmo,
descobre não apenas que muda, mas que as pessoas
com as quais ele tem relações, mudam igualmente.”
(Carl R. Rogers)

Por que pensar em tecer relações?1
No contexto pós-moderno as relações humanas se configuram de forma descartável, flexível, com poucas possibilidades de compromissos duradouros e respeitosos. Falta valorização da pessoa, do corpo e há pouca compreensão da sua importância social e eclesial.
As instituições (entendemos aqui a família, a escola, a Igreja) têm deixado de lado a discussão sobre afetividade e sexualidade, delegando essa importante tarefa aos meios de comunicação, os quais tratam do assunto ora com responsabilidade ora com banalidade.
A temática prioritária, nas rodas de conversas das juventudes, é, sem dúvida, as questões que tratam do corpo, da afetividade e da sexualidade. Na vivência dos grupos de base e fora deles há uma grande necessidade/curiosidade em assuntos relacionados à afetividade e sexualidade, porém muitas vezes falta uma discussão mais teórica e, ao mesmo tempo, empírica que atenda a essa necessidade.
O debate da diversidade também é demanda para a atuação do projeto e, por isso, gênero, etnia, deficiências, identidade, são temas ligados à vida humana. Quem nunca presenciou uma situação de preconceito? Uma atitude machista? Nas relações cotidianas nos defrontamos com mitos e estereótipos, situações que nos convocam a reagir, tendo como primado a prática de Jesus “amar uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15, 12).
Nessa perspectiva das relações humanas é importante criarmos oportunidades para que as pessoas se relacionem, de modo que percebam uns aos outros e lutarmos para que todos sejam respeitados, de fato, valendo para essa prática o apontamento do sociólogo Boaventura Santos: “Temos o direito de sermos iguais sempre que a diferença nos inferioriza; e temos o direito de sermos diferente quando a nossa igualdade nos descaracteriza”.2
Na juventude e adolescência muitos valores estão sendo questionados, reafirmados e construídos. Deparamo-nos, constantemente, nos grupos de jovens com questionamentos acerca do pensamento sobre o futuro. Sonhos, dúvidas, decepções, alegrias, perguntas, curiosidades e atitudes diante da vida, revelam o desejo da juventude em projetar, sendo, portanto, a construção didática do projeto de vida, uma possibilidade de trabalhar com a temática da afetividade e sexualidade, sempre presente na construção dos horizontes.
Entretanto, na construção do projeto de vida a dimensão da integralidade do sujeito deve ser incorporada. Devemos pensar holisticamente, integrando as dimensões humanas. A Pastoral da Juventude propõe esse trabalho quando considera que a formação deve ser integral.
Segundo Arruda:3"na construção do conceito do ser humano, estabelece-se um diálogo com o Sri Aurobindo4 que afirma que o ser humano tem unidos, consciente e inconsciente, corpo, mente e psique, ego e sexualidade, afeto e agressão”. É essa perspectiva que pretendemos assumir no debate, ajudando os jovens a pensarem o sentido de suas vidas, em um processo de autoconhecimento, compromisso consigo e com o próximo.
A Igreja Católica insiste em que toda a ação com os jovens considere as questões ligadas à afetividade e sexualidade, apontando para a necessidade de trabalharmos sempre com todas as dimensões da pessoa humana: “O discipulado começa com o convite pessoal de Jesus Cristo: "Vem e segue-me" (Lc 18,22). Na formação para o discipulado é necessário partir de uma formação integral. Quem trabalha na formação de jovens necessita estar atento às cinco dimensões: psicoafetiva, psicossocial, mística, sociopolítico-ecológica e capacitação. Trata-se de efetivar, pedagogicamente, um conceito que se encaixa no contexto da sensibilidade da cultura jovem e aponta para uma nova síntese que integre o racional com o simbólico, a afetividade, o corpo, a fé e o universo”.5
Por essas razões fica evidente a necessidade de coordenadores e assessores qualificarem-se para tratar desses assuntos com liberdade e maturidade junto à juventude. Esse contexto exige que a Pastoral da Juventude contribua para a construção de relações equilibradas e maduras, tecendo novas relações a exemplo de Jesus rompendo com todas as formas de discriminação.
Onde queremos chegar
Colaborar na construção da identidade de jovens que desejam aprofundar as temáticas da sexualidade, afetividade, diversidade e corporeidade.
Iniciativas
  1. Contribuir para a defesa da dignidade da pessoa humana e para a construção de relações respeitosas, amorosas, igualitárias, dialógicas e horizontais.6
  2. Promover espaços de diálogo e partilha sobre experiências afetivas.
  3. Aprofundar a temática do projeto a partir dos documentos da Igreja.
  4. Conhecer a história da sexualidade e os diversos estudos sobre a temática.
  5. Sistematizar algumas experiências do trabalho sobre questões de gênero e juventude.
  6. Aprofundar temas como corporeidade, violência de gênero, a violência contra a mulher e a violência sexual, de forma articulada com as ações da Campanha contra a violência e o extermínio de jovens.
  7. Favorecer para que os jovens pensem seu projeto de vida, considerando a dimensão da afetividade e sexualidade.
  8. Estimular o combate aos preconceitos nas diferentes formas em que se manifesta.
Metodologia
O trabalho do projeto “Tecendo Relações” exige formação com profissionais da área e agentes de pastoral com conhecimentos das temáticas abordadas e a criação de espaços que possibilitem diálogo e vivências, como rodas de conversas, biodança, músicas, poesias, dinâmicas, teatro e outros.
Ações propostas
1Contribuir para a defesa da dignidade da pessoa humana e para a construção de relações respeitosas, amorosas, igualitárias, dialógicas e horizontais:
  • Formação de equipes para o Projeto nas instâncias de atuação da PJ.
  • Estudos sobre:
  • Declaração universal dos direitos humanos.
  • Lei 9.459/97, que complementa a Lei 7.716/89, definindo punições para crime de racismo.
  • Lei 11.340/06, chamada de Lei Maria da Penha, que criou mecanismos para coibir a violência doméstica.
  • Estudo dos documentos da Igreja Católica sobre esse assunto.
2 Promover espaços de diálogo e partilha sobre experiências afetivas:
  • Oportunidade e criação de espaços específicos de reflexão e construção do Projeto de Vida.
  • Momentos de vivência que façam relação com a mística da PJ e com iluminações bíblicas.
  • Parceria com diversas organizações, entre elas: a Pastoral Familiar, a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), CEBI, Pastoral da AIDS e Animação Vocacional.
  • Potencialização dos momentos de Revisão de Vida e Revisão de Prática.
  • Criação de rodas de conversa e outros espaços de partilha.
3 Aprofundar a temática do projeto por intermédio dos documentos da Igreja:
  • Divulgação dos documentos e pronunciamentos da Igreja que abordam temáticas ligadas à afetividade e sexualidade.
  • Realização de momentos formativos para estudo dos documentos e pronunciamentos da Igreja que abordam temáticas ligadas à afetividade e sexualidade.
  • Participação de atividades formativas, orantes e celebrativas oferecidas pela Igreja, por meio das pastorais e organismos que abordem essa temática.
  • Publicação e divulgação de subsídios sobre o valor da família.
  • Sintonia com a proposta da Semana Nacional da Família e seus materiais.
4 Conhecer a história da sexualidade e os diversos estudos sobre a temática:
  • Formação de assessores para uma melhor compreensão e acompanhamento dos jovens e suas relações.
  • Estudo sobre a temática.
5 Sistematizar algumas experiências do trabalho sobre questões de gênero e juventude:
  • Criação de um banco de dados com essas experiências dialogando com o projeto “Teias da Comunicação”.
  • Realização de seminário sobre as temáticas do Projeto nas diversas instâncias de atuação da PJ.
6 Aprofundar temas, como: corporeidade, violência de gênero, a violência contra a mulher e a violência sexual, de forma articulada com as ações da Campanha contra a violência e o extermínio de jovens:
  • Produção de materiais para os grupos de base: rodas de conversa, produção de textos e vídeos, dinâmicas, indicação de filmes e músicas, materiais para datas especiais (Vigília pelos mortos vítimas da Aids; Dia Mundial de luta contra a Aids; Dia Internacional da Mulher; Dia do Amigo; Dia dos Namorados; Dia de Combate à Violência contra a Mulher; Dia da Consciência Negra e outras datas) e análise de piadas e expressões cotidianas que denotam preconceito.
  • Divulgação dos subsídios e matérias já existentes que trabalham essas temáticas.
7 Favorecer para que os jovens pensem seu projeto de vida, considerando a dimensão da afetividade e sexualidade:
  • Divulgação de materiais, textos e roteiros de elaboração de projeto de vida.
  • Capacitação de adultos e assessores para acompanharem os jovens em seus projetos de vida.
8 Estimular o combate aos preconceitos nas diferentes formas em que se manifestam:
  • Potencialização do debate nas ações em defesa da vida da juventude.
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1 O que apresentamos aqui são as conclusões da Ampliada de Imperatriz, sem a preocupação científica e acadêmica do assunto como tal. O que importa é o processo que se deseja implementar, onde não podem faltar aspectos sociais, culturais, pedagógicos, históricos, eclesiais e teológicos para as quais o texto não deixa de apontar. Isso, contudo, é tarefa posterior na construção do projeto.
2 SANTOS, 2003, p. 56.
3 TEIXEIRA, 2005.
4 Místico indiano que participou das lutas pela independência ao lado de Gandhi.
5 CNBB, 2007, n. 97.
6 Essa iniciativa vai ao encontro com o que os Bispos do Brasil propõem no Documento 85: “Estimular uma prática humanizadora com jovens por meio da elaboração e prática de novas maneiras de relacionamento que superem as contradições existentes e garantam o exercício do poder coletivo, da iniciativa e da criatividade de seus participantes, além de estimular o processo de formação integral, a comunhão, a comunicação e o Mistério da Encarnação — Mistério da transformação do Reino de Deus concretizado na capacidade de as pessoas se amarem (n. 115).”

Fonte: PJ Nacional

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